É O JUDEU (e não o não-judeu) QUEM DEFINE O QUE É JUDEU E QUEM É JUDEU.

É O JUDEU (e não o não-judeu) QUEM DEFINE O QUE É JUDEU E QUEM É JUDEU.
OS JUDEUS SÃO OS QUE SABEM QUEM É JUDEU E QUEM NÃO O É.
É O JUDEU (e não o não-judeu) QUEM DEFINE O QUE É JUDEU E QUEM É JUDEU.

http://www.pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/1216626/jewish/Quem-Judeu.htm


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[Blog (todo) revisado em 17/10/13.]

"[Em breve,] toda a Terra estará repleta do conhecimento de HASHEM, assim como as águas cobrem o mar."
- Ieshaiáhu (Livro Judaico do Profeta Judeu Isaías) 11:9

A vida é um aprendizado para todos, sem exceção, sempre, e para sempre. E se aprende ou pelo amor ou pela dor.
- O Blog

"O judaísmo identifica-se como um ato de D-us na história da humanidade."
- Herman Wouk

"Os 10 Mandamentos foram uma revelação única na história da humanidade. [Ela foi] ouvida por todo o povo judeu (aproximadamente 3 milhões de pessoas) aos pés do Monte Sinai ... . Israel é o povo que revela a vontade de D-us. Tem por tarefa e objetivo ser o coração da humanidade, uma fonte de vida espiritual para os outros povos."
- Raphael Shammaho

"Feliz é a nação cujo D-us é HASHEM (a nação israelita), o povo que ELE escolheu para Sua propriedade. Pois D-us escolheu (os Filhos de) Yaacov para SI, (o povo de) Israel como Seu tesouro. Feliz é o povo cujo D-us é HASHEM."
- Tehilim (Livro Judaico dos Salmos) 33:12; 135:4; 144:15

"Envia Tua luz e Tua verdade, que elas me conduzam; elas me trarão ao Teu santo monte [o Judaísmo] e ao Teu tabernáculo [a Torá]. Então ... eu Te louvarei ..., ó D-us, meu D-us!"
- Tehilim (Livro Judaico dos Salmos) 43:3, 4

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Messiânicos não são judeus. Mas são o que então?


Por Dor Leon Attar






Quem define o que é judeu e o que é judaísmo, obviamente, é o judeu. Os judeus declaram que os messiânicos não são judeus. Mas se os messiânicos não são judeus, são o que? ORA, CRISTÃOS. 
Cristão ou messiânico é aquele que acredita em Jesus ou Yeshua. A crença em Jesus ou Yeshua não faz parte do Judaísmo, legítimo, autêntico (e assim também a crença em Jesus ou Yeshua não faz parte do noaísmo (movimento Bnei Noach), não é parte dos Princípios de Fé dos (verdadeiros) Bnei Nôach. Portanto, todo e qualquer messiânico que se declara judeu e também todo e qualquer messiânico e cristão que se declara Bnei Nôach é um falso, um mentiroso, um enganador.


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"O Judaísmo é Messiânico???"

Por Moré Gilberto Venturas


"Se Messias em Grego é Cristo, Messiânico quer dizer... Cristão! Certo?
E o que define uma religião como messiânica ou cristã?
A centralidade que o Messias ocupa em sua doutrina.

No caso das religiões messiânicas - cristãs - o Messias é o ponto central, pois é através dele que se obtém o perdão dos pecados e a salvação.

No caso do judaísmo o Messias deve ser somente uma consequência de nossa elevação espiritual - cumprimento dos mandamentos - e retorno ao Eterno, ocupando portanto, um lugar muito menos central do que ocupa nas religiões messiânicas - cristãs.

É por isso que eu costumo dizer:
Apesar do conceito do Messias ser judaico, o judaísmo não é messiânico!

Concluo afirmando minha amizade por todos os irmãos de todas as religiões e crenças, que independentemente das diferenças, compartilham conosco do desejo de encontrar a Verdade e de Fazer o Bem! 

Aproveito também para repudiar a onda de agressões aos irmãos messiânicos e vice e versa, que estão buscando, de modo sincero, o seu caminho, apesar das divergências que tenho com algumas ideias dos mesmos."


quarta-feira, 21 de maio de 2014

É o "novo testamento", a nova aliança descrita pelo profeta Yirmiyáhu?

Por Judeus para o Judaísmo


O que o profeta judeu Yirmiyáhu (Jeremias) disse sobre a Nova Aliança?


Explicando porque o Novo Pacto profetizado em Yirmiyáhu 31 não é o ‘'novo testamento.’’ 

Embora tenham fracassado com os Judeus conhecedores da Torá, os missionários por outro lado têm tido relativo sucesso na conversão de Judeus assimilados. A estratégia deles é mostrar que na própria Bíblia Judaica, existem evidências da ‘’messianidade’’ de Jesus. Uma das profecias encontradas em nossa Bíblia é intencionalmente corrompida para se fazer acreditar que D'us anunciou a criação do ‘’novo testamento.’’

No livro do profeta judeu Yirmiyáhu (Jeremias), capítulo 31, encontramos uma passagem onde D'us fala da criação de um Novo Pacto. O cristianismo insiste que esse novo pacto foi concluído com a morte de Jesus, e somente através dele os Judeus podem encontrar salvação.

"Isto é o meu sangue da nova aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados." (Mateus 26:28)

O autor do livro de Hebreus vai mais longe ainda, e dá origem à divisão cristã entre Novo e Velho Testamento.

"Chamando nova esta aliança, ele tornou antiquada a primeira; e o que se torna antiquado e envelhecido, está a ponto de desaparecer." (Hebreus 8:13)

A intenção do autor é clara. Com a morte de Jesus, uma nova aliança foi criada, deixando a velha aliança, a Torá, ultrapassada e fadada a desaparecer. Mas ao analisarmos a profecia de Yirmiyáhu conseguimos enxergar a falsidade desse argumento e a verdadeira mensagem de D'us ao povo Judeu.

A profecia começa anunciando a criação dessa nova aliança:
"Aproximam-se os dias - diz ADONAI - quando estabelecerei um novo pacto com a Casa de Israel e com a Casa de Judá." (Yirmiyáhu 31:30)

D'us anuncia claramente a criação de uma nova aliança, ou um novo pacto com o Povo Judeu. O fato de existir um novo pacto, não implica de forma alguma a anulação do pacto anterior. Por exemplo, vemos na história de Noé que D'us fez um pacto com ele e seus filhos. A seguir D'us então faz um novo pacto com Abraão, depois com Isaque e novamente com Jacó. Quando o povo Judeu se encontrou com D'us no Monte Sinai, D'us fez um novo pacto com eles, e depois com David e Salomão. Nenhum desses pactos anulou o anterior nem os tornou obsoletos. Paulo mesmo argumenta na carta de Gálatas capítulo 3, que se um pacto feito entre homens não pode ser anulado, muito mais então um pacto ratificado por D'us.

Portanto a nova aliança anunciada por Yirmiyáhu não implica na anulação dos pactos anteriores. Conseguimos ver também, ainda nesse primeiro verso, um ponto que contraria a teoria cristã. No final do versículo, está escrito que essa nova aliança seria feita com a "Casa de Israel e com a Casa de Judá".
Sabemos que o reino de Israel foi dividido entre essas duas Casas, e que a Assíria exilou a Casa de Israel, que desapareceu completamente. De acordo com o profeta, essa nova aliança vai ser feita quando Israel for restaurado e as duas Casas retornarem. Isso torna impossível que essa aliança tenha sido feita com a morte de Jesus, pois nos seus dias a Casa de Israel estava completamente perdida e a de Judá espalhada pelo mundo.

No próximo verso vemos os cristãos, mais uma vez, alterando as Escrituras.
"Não conforme o pacto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para retirá-los do Egito, pois violaram Minha aliança apesar de EU ser o Seu D'us e os haver desposado - diz ADONAI." (Yirmiyáhu 31:31)

Aqui está uma passagem interessante que os cristãos tentaram apagar. D'us acusa o povo Judeu de ter quebrado a aliança com Ele, "apesar de EU os haver desposado". Ou seja, apesar de estarmos "casados" com D'us quebramos nosso pacto com Ele. O pecado que causou isso, diz Yirmiyáhu, foi a idolatria. Sabemos que a Torá compara o pecado da idolatria com o adultério. Pelo fato de estarmos casados com D'us e seguirmos outros deuses, estamos traindo nossa relação e quebrando portanto nossa aliança.

Mas agora vem o problema que incomoda os cristãos. Se abrimos o livro de Yirmiyáhu no capítulo 3, encontramos a passagem mais triste mas também mais bela de todo o livro. Veja que mensagem fantástica o profeta nos traz:

"Se um homem se separar de sua mulher, e ela se tornar mulher de outro homem, poderia o primeiro marido voltar a se unir a ela? Não provocaria isto a condenação de toda a terra? Tu, entretanto, te prostituíste com muitos amantes e te propões agora a voltar para MIM? - diz ADONAI. Vai e proclama ao norte estas palavras: Retorna, ó apóstata Israel - diz ADONAI. - Não te renegarei porque sou misericordioso! - diz ADONAI. - Não permanecerei eternamente rancoroso. Retornai, ó filhos rebeldes, e EU curarei a vossa infidelidade! [Dizei:] 'Eis-nos aqui! Viemos a TI, pois TU és ADONAI, Nosso D'us!' " (Yirmiyáhu 3:1, 12-14, 20, 22)

Eu uso essa passagem para mostrar aos cristãos que a graça de D'us não foi dada com o ‘’novo testamento’’, ou com a morte de Jesus, e sim aqui em Yirmiyáhu capítulo 3. Presta atenção nas palavras do profeta. Ele abre o verso dizendo que, se um homem divorcia sua mulher, e ela se casa com outro, ele, o primeiro marido, não pode querer voltar a viver (amorosamente ou conjuntamente) com ela (já que agora ela está com outro). Apesar disso, D'us diz, mesmo que uma mulher traía seu marido, assim como vocês Me traíram, e se separe dele assim como vocês se separam de Mim, e case com outros assim como vocês se casaram com outros deuses. Ela casada com outro não pode voltar a se relacionar como era antes com seu primeiro marido, mas vocês, ainda assim, "retornai para MIM, diz ADONAI". Ainda assim, a abundante graça de D'us permite, que acima de toda lógica, as portas estarão sempre abertas para nós.

Por isso o autor do livro de Hebreus não quis que o verso indicasse que quebramos a aliança, apesar de estarmos casados com D'us. Ele sabia que isso indicava que a possibilidade de retorno ainda era possível, então ele altera o verso: 
"Não como a aliança que fiz com os seus pais no dia em que os tomei pela mão para tirá-los da terra do Egito. Como eles não permaneceram fiéis ao pacto, Eu me desinteressei deles, diz o Senhor."
(Hebreus 8:9 citando Yirmiyáhu 31:32)

Sem ninguém notar, o autor do livro de Hebreus remove a frase "apesar de Eu os haver desposado" e substitui por "Eu me desinteressei deles". Vocês quebraram o Meu pacto, Eu perdi o interesse em vocês e vou fazer um novo pacto então com outro povo. Essa é a mensagem que o livro de Hebreus quer transmitir. Dessa forma o ‘’Velho Testamento’’ se torna obsoleto, e o interesse de D'us por Seu povo desaparece. Abrindo assim as portas para um ‘’novo testamento’’ com um novo povo, ‘’D'us nos livre.’’

Obviamente que essa proposta do ‘’novo testamento’’ é derrubada por uma promessa feita por D'us.

"Com um pouco de ira escondi a Minha face de ti por um momento; mas com bondade eterna me compadecerei de ti, diz ADONAI, o teu Redentor. Porque isto será para Mim como as águas de Noé; pois jurei que as águas de Noé não passariam mais sobre a terra; assim jurei que não me irarei mais contra ti, nem te repreenderei. Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão abalados; porém a Minha bondade não se apartará de ti, e a Minha aliança de paz não será removida, diz ADONAI que se compadece de ti." (Yeshayáhu [Isaías] 54:8-10)

Mas mentira não é a prova de balas e os cristãos ainda têm mais alguns problemas com a profecia. Nos versos seguintes o profeta explica qual é a nova aliança.

"Pois este é o pacto que farei com a Casa de Israel após aqueles dias - diz ADONAI: Farei com que internalizem Minha Torá em todo o seu ser e a gravarei em seu coração; serei seu D'us e eles serão Meu povo. Não mais precisarão sugerir, cada um a seu vizinho e cada um a seu irmão: 'Reconhece a ADONAI', pois todos já ME conhecerão, do mais humilde ao mais destacado - diz ADONAI - pois perdoarei sua iniquidade e não mais lembrarei seu pecado." (Yirmiyáhu 31:32, 33)

No dia em que a nova aliança for estabelecida, com a restaurada Casa de Israel, a Lei de D'us vai ser inscrita no coração de todos os judeus. Repare no último verso que diz "todos Me conhecerão". Todos os judeus estarão reunidos em Israel e todos terão a preocupação de conhecer a ADONAI pela Sua Torá. E além disto, sabemos também que uma das profecias messiânicas mais esperadas diz: 



‘’O mundo inteiro vai conhecer a D'us.’’

Na era messiânica D'us vai se revelar no mundo com nunca antes. Portanto depois de todo o judeu do mundo reconhecer ao Seu Próprio D'us, então, também ocorrerá que "a Terra se encherá do conhecimento da glória de ADONAI, como as águas enchem o mar." (Chavacuc [Habacuque] 2:14)



Isso apresenta um problema teológico enorme para os cristãos. Se a nova aliança foi criada com a morte de Jesus na cruz, como afirma o ‘’novo testamento’’, porque gastar fortunas enviando missionários pelo mundo? Pois, de acordo com o cristianismo, existem dois bilhões de muçulmanos e quase um bilhão de hindus que não conhecem a D'us. Sem contar o crescente número de ateus e pessoas de outras religiões. Ah, e os Judeus, é claro. Mas se a profecia se cumpriu e a nova aliança foi estabelecida, então o mundo inteiro já conhece a D'us, as outras religiões não existem e missionários são desnecessários.

Fica claro porque a nova aliança anunciada por Yirmiyáhu não é o ‘’novo testamento’’, e sim, um pacto futuro que D'us fará com Israel, onde nunca mais seremos exilados e Jerusalém jamais será destruída novamente e todos (nós, judeus, sem exceção) observaremos a Torá. 

Devermos ser firmes em nossa aliança com D'us e aprender que a verdadeira graça de D'us está em Seu enorme amor por nós.




Veja também

e

A Nova Aliança

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Série: Tanach, machista? As mulheres no Tanach. "O processo de redenção do povo de Israel se iniciou antes de Moshé, com Yocheved, Miriam e Bitia"

O processo de redenção do povo de Israel se iniciou antes de Moshé, com Yocheved, Miriam e Bitia

Série: Tanach, machista? As mulheres no Tanach.




Rabi Munk, Elie,The Call of the Torah

Rabi Weissman, Moshe,The Midrash Says




Fonte: Revista Morasha, Edição 83 - abril de 2014





O Seder de Pessach é o mais comemorado dos rituais judaicos. A Hagadá lida nessa cerimônia relata o nascimento do Povo de Israel: a escravidão no Egito, o decreto de genocídio contra os recém-nascidos judeus de sexo masculino, as pragas e os milagres. A libertação de nosso povo, que é o tema central da festa de Pessach, ocorreu graças aos heroísmo e coragem de três mulheres.



A história que  a Hagadá transmite é relatada pelo segundo livro da Torá, Êxodo. O relato é bastante famoso: ao longo dos séculos, serviu como fonte de inspiração para milhões de pessoas, judeus e não judeus.  A história da escravidão e libertação do Povo Judeu toca a alma e gera grandes emoções – fascina e inspira. É uma lição sobre sofrimento e esperança, desafios e triunfos, milagres e maravilhas, heróis e vilões.

Seus protagonistas são famosos: Moshé Rabenu – o maior profeta e líder judeu de todos os tempos – e seu irmão e companheiro, Aaron – o primeiro Cohen Gadol, Sumo Sacerdote e pai de todos os Cohanim. Há na história muitos heróis anônimos: líderes judeus que sofreram para proteger e preservar o Povo de Israel no Egito.

Seus antagonistas são também lendários. O maior deles é o próprio rei do Egito, o Faraó. Mas ele não age sozinho. Conta com poderosos feiticeiros e astrólogos e com conselheiros que o auxiliam na execução de seus planos malévolos: a escravidão dos judeus e, posteriormente, o extermínio dos meninos e a assimilação das meninas.

O decreto de atirar os recém-nascidos judeus no  Nilo se deve a uma previsão feita por esses astrólogos. Eles relataram a Faraó que nasceria um menino que  seria o libertador do Povo Judeu, mas que viria a falecer “por meio da água”.

Isso, de fato, ocorreu: a porção de Chukat, no quarto  livro da Torá, Bamidbar - Números, relata o famoso incidente que selou a decisão do Eterno de que Moshé não entraria na Terra de Israel. A Torá conta que, com o falecimento de Miriam, D’us fez com que a Fonte de Miriam desaparecesse para que os Filhos de Israel percebessem que a milagrosa fonte da qual fluía água  em abundância, e que os acompanhara, até então, em sua longa caminhada pelo deserto, havia sido provida por D’us, pelo mérito de Miriam.

Ao chegarem a Kadesh, no deserto de Zin, onde  não há água, os Filhos de Israel, desesperados,  clamam a Moshé. D’us então lhe ordena: “Toma o cajado e reúne a congregação, tu e Aaron, teu irmão, e falareis à rocha diante de seus olhos; e dará as suas águas, e tirareis para eles águas da rocha e dareis de beber à congregação e aos seus animais”. A Torá relata que  Moshé tomou seu cajado e, com seu irmão Aaron, congregou o povo diante da pedra. “E Moshé levantou sua mão e feriu a rocha duas vezes com seu cajado,  e saiu muita água, e a congregação e seus animais beberam”. Mas, a ordem que D’us dera a Moshé era  que falasse com a pedra, não que nela batesse. Por ter violado tal ordem Divina, D’us decreta que ele e seu irmão Aaron faleceriam no deserto, não tendo, pois, o mérito de adentrar a Terra Prometida.

Os astrólogos egípcios vislumbraram a consequência de tal incidente. Já que o calcanhar de Aquiles do grande salvador dos judeus era a água, aconselharam o Faraó a lançar todos os recém-nascidos judeus nas águas do Nilo. Essa seria a única forma de garantir a morte do líder judeu, cujo nascimento era iminente. Faraó seguiu o conselho de seus astrólogos e conselheiros. Moshé foi, de fato, jogado no Nilo, mas sobreviveu ao decreto de genocídio e foi o agente Divino responsável pela redenção do Povo Judeu.

Na realidade, o processo de redenção de nosso povo se iniciou antes do seu nascimento, por meio de três mulheres: Yocheved, Miriam e Bitia.

O Livro de Êxodo conta que duas parteiras judias se recusaram a acatar o decreto genocida do Faraó. Segundo a Torá, “as parteiras temeram a D’us e não fizeram conforme o que o rei do Egito lhes dissera, e elas causaram com que os meninos vivessem” (Êxodo 1:17).

A Torá relata que as duas parteiras eram chamadas de Shifrá e Puá. O Talmud revela suas verdadeiras identidades: Yocheved, esposa de Amram, e sua filha Míriam, que,  com apenas cinco anos, ajudava a mãe em seu trabalho. Conta o Midrash que, ao ouvir a ordem do Faraó de que todo menino hebreu recém-nascido devia ser jogado no Nilo, Míriam se revolta e diz: “Que rei mais malvado! Pobre de ti quando D’us for te punir”. Só a insistência de Yocheved em afirmar que Míriam era apenas uma criança salvou sua vida da fúria do rei do Egito.  
Por “temer a D’us”, as parteiras não só desobedecem as ordens do rei como passam a acudir os recém-nascidos, alimentando-os e escondendo-os. A Torá nos revela que D’us as recompensou por tal ato heroico de desobediência: “D’us construiu Casas para elas”. O Talmud explica que essas casas não foram habitações físicas, e sim, dinastias. Yocheved se tornou a mãe dos Cohanim e Levi’im e um dos descendentes de Miriam foi o Rei David, o maior monarca judeu (Sotá, 11b). Além disso, foram recompensadas por meio do nascimento de uma criança que mudaria a história do mundo. Por ter salvado os filhos de outras famílias judias, Yocheved deu à luz à maior alma que já veio ao mundo: Moshé Rabenu.

Mas o nascimento do maior profeta e líder judeu também se deve à sua irmã, Miriam. Quando o Faraó decretou que todo recém-nascido judeu seria atirado no Nilo, Yocheved e seu marido, Amram – líder do Povo Judeu à época –, se separaram, pois decidiram que era preferível não ter mais filhos a arriscar que Yocheved desse à luz a um menino, que seria morto no Nilo. Foi Miriam quem os convenceu do contrário, dizendo: “Pai, seu decreto é mais severo do que o do Faraó! Ele só decretou contra os meninos, seu decreto estende-se a todas as crianças, meninos e meninas”. Ela, que era uma profetiza, prometeu aos pais que eles teriam um filho que seria o salvador do Povo Judeu (Sotá, 12b-13a).

Mas há ainda uma terceira mulher responsável pela redenção de nosso povo. Seu nome: Bitia, a filha do Faraó. A Torá relata que, no dia em que Moshé foi posto em um cesto e jogado no Nilo, Bitia foi banhar-se no rio. Ela vê um cesto e um menino que se encontra nele, que chora. Apesar de estar ciente de que se trata de uma criança judia que havia sido lançada ao Nilo devido às ordens de seu pai, a princesa o salva. Relata a Torá: “Ela teve piedade dele e disse: ‘Este é um dos meninos hebreus’ ” (Êxodo 1:6).

Salvar a vida da criança significaria desobedecer a um decreto real. Isso é algo que se poderia esperar de um judeu, não de um egípcio – muito menos de um membro da família real – a própria filha de Faraó.
É notável que Bitia não estivesse só quando tomou essa decisão. Ela se encontrava na companhia de sua serva. Portanto, corria o risco de que seu ato se tornasse de conhecimento público, chegando aos ouvidos reais. Mas nem isso a fez titubear.

Após Bitia ter salvado Moshé do Nilo, ocorre algo extraordinário. Miriam, que havia profetizado que seu irmão seria o salvador dos judeus, permaneceu às margens do Nilo, observando a cesta onde se encontrava a criança. Miriam sabia que seu irmão não pereceria no Nilo. Quando ela vê que a filha de Faraó o recolhera, pergunta a Bitia: “Devo chamar uma mulher judia para amamentar a criança para você?”. “Vai”, responde Bitia. Miriam chama Yocheved e a mãe adotiva da criança diz à verdadeira mãe: “Leva esta criança e a amamenta para mim. Eu te pagarei por isso”.

Tal episódio evidencia a fé e coragem de Miriam. Ela nunca perdeu as esperanças de que seu irmão sobreviveria para salvar seu povo. Miriam tem a audácia de propor à própria filha de Faraó um plano para salvar um menino judeu. Ela sugere que Yocheved, a verdadeira mãe de Moshé, aja como se estivesse amamentando uma criança egípcia até que Bitia possa adotá-lo. Três mulheres – Yocheved, Miriam e Bitia – conspiram para salvar a vida de Moshé do decreto genocida de Faraó.

A Torá, então, nos conta que após o período de amamentação, Yocheved “o trouxe à filha do Faraó e ele foi para ela como filho...” (Êxodo, 2:10).

Apesar das ordens do pai, o poderoso rei do Egito, Bitia adota a criança e a cria no próprio palácio do Faraó – o arqui-inimigo de nosso povo. E o cria como filho. É ela quem dá ao menino o nome de Moshé. Ensinam nossos Sábios: o maior de nossos profetas possuía vários nomes, inclusive aquele dado por seus pais quando nasceu, Tuvia. Mas, na Torá, D’us sempre o chama de Moshé – em reconhecimento à mulher que o salvou e criou. É interessante que o Livro das Crônicas se refere a Moshé como “ben Bitia” – filho de Bitia. Isso porque, apesar de não ter sido sua mãe biológica, a filha do grande vilão da história, salvou, educou e amou Moshé.

Em recompensa por seu heroísmo, ela foi imortalizada pela Torá. Não sabemos qual foi o nome dado a ela quando nasceu: a Torá a chama de Bitia, que significa “filha de D’us”, pois como ensina o Midrash: “D’us disse a ela: ‘Você adotou um filho e o chamou de Moshé, que significa ‘filho’ em egípcio. Eu farei o mesmo: Eu a adotarei e a chamarei de Minha filha’”. 

Bitia foi a única egípcia a não ser atingida pelas Dez Pragas. Além disso, ela foi um dos pouquíssimos seres humanos a adentrarem o Mundo Vindouro sem ter falecido. Graças a seu heroísmo e generosidade, além de ser chamada de “filha de D’us” e ser considerada a mãe de nosso maior profeta, ela triunfou sobre o maior desafio da humanidade – a morte. Tal graça Divina não foi concedida nem mesmo a Moshé.

O que Yocheved, Miriam  e Bitia nos ensinam

A palavra Torá advém de Hora’á – ensinamento. A Torá não é um livro de histórias, e sim, uma obra de autoria Divina que contém lições para todo o Povo Judeu, em todas as gerações. O heroísmo de Yocheved, Miriam e Bitia serve de exemplo para todos nós. A essas três grande mulheres, nós, o Povo Judeu, devemos nossa liberdade e todas as bênçãos que advieram dela – a Revelação no Monte Sinai, o recebimento da Torá e a Terra de Israel. Mas além de terem desempenhado um papel fundamental na história de nosso povo e da humanidade, essas três mulheres ensinaram lições que, decorridos mais de três milênios, continuam a reverberar. Elas nos ensinaram que mesmo quando há escuridão e maldade no mundo, cabe ao ser humano desafiá-las ao gerar luz e promover a bondade. 

A coragem de Yocheved, Miriam e Bitia serve de argumento contra todos aqueles que alegaram ter feito o mal porque não lhes foi dado escolha – porque tinham a obrigação de seguir ordens. O ato de Bitia ao salvar Moshé Rabenu rechaça os argumentos apresentados pelos nazistas nos Julgamentos de Nuremberg.

Das três heroínas de Pessach,  Bitia é quem nos ensina mais lições, entre elas, a de que não se deve julgar outros seres humanos por motivo  de nacionalidade, etnia ou religião.  A salvação do Povo Judeu ocorreu por meio de uma mulher que, além de egípcia – membro do povo que nos escravizava e nos assassinava –, era a própria filha do líder antissemita da época. Foi a filha de um homem responsável por uma campanha de genocídio contra os judeus quem adotou, educou e protegeu nosso maior líder e profeta – aquele que não apenas liderou a libertação do Egito, mas trouxe a Torá dos Céus à Terra e conduziu nosso povo à nossa Pátria ancestral e eterna – Eretz Israel.

Há ainda outra lição a se aprender  de Yocheved, Miriam e Bitia:  a de que, cedo ou tarde, D’us recompensa abundantemente a bondade, a coragem e a generosidade.

A Torá nos ensina que o Todo Poderoso tem grande afeto por aqueles que cumprem Sua vontade, apesar da oposição e das ameaças daqueles que desejam disseminar o mal e a escuridão pelo mundo.  É nos momentos mais difíceis, de maior escuridão, que a luz brilha mais forte e que a bondade e a coragem se tornam mais aparentes.

Pessach é a festa da liberdade. Ensina o judaísmo que o verdadeiro significado da liberdade é o livre arbítrio: o poder de escolher o bem e rejeitar o mal, independentemente de qualquer fator ou circunstância.

As três heroínas da história de Pessach não apenas corroboram o ensinamento de nossos Sábios de que a redenção de nosso povo ocorreu graças às mulheres, mas elas também personificam os temas da festa mais celebrada pelos Filhos de Israel: a liberdade, a desobediência ao mal, a coragem, a dignidade humana e a valorização da vida – temas universais e atemporais, que permeiam o judaísmo e que há mais de três milênios vêm influenciando a humanidade.

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Bibliografia:

Rabi Sacks, Jonathan, Exodus: The Book of Redemption. Covenant & Conversation - A Weekly Reading of the Jewish Bible,  Maggid Books & the Orthodox Union

quarta-feira, 26 de março de 2014

Bíblia cristã explica Ieshaiáhu (Isaías) 7:14 e 9:5, 6

A Bíblia Sagrada cristã Edição Pastoral, Paulus, 1990, explica sobre Ieshaiáhu 7:14 ("[O ETERNO D-us] falou de novo a Acaz, dizendo: ... Pois saibam que [O ETERNO D-us] lhes dará um sinal: A jovem concebeu e dará à luz um filho, e o chamará pelo nome de Emanuel. ... [O ETERNO D-us] há de trazer para você [Acaz], para o seu povo e para toda a família do seu pai, dias de felicidade como nunca houve desde o dia em que Efraim se separou de Judá'."):

"Acaz teme o cerco ... Isaías vai ao seu encontro e o tranquiliza, mostrando que não haverá perigo, pois continua válida a promessa de que a dinastia de Davi será perene... . O sinal prometido a Acaz é o seu próprio filho, do qual a rainha (a jovem) está grávida. Esse menino [Ezequias] que está para nascer é o sinal de que Deus permanece no meio do seu povo". (Página 907)

E explica sobre Ieshaiáhu 9:5, 6:

"Em 732 a.C., o rei da Assíria toma os territórios da Galiléia e adjacências, incluindo Zabulon e Neftali. O povo do Reino do Sul teme o avanço assírio, mas o profeta [Ieshaiáhu/Isaías] mostra que [O ETERNO D-us] libertará os oprimidos e trará a paz. O que leva Isaías a essa luminosa esperança é o nascimento do Emanuel (cf. 7,14), que é Ezequias, o filho herdeiro de Acaz. O profeta prevê um chefe sábio, fiel a Deus, duradouro e pacífico; ele perpetuará a dinastia de Davi, estendendo o reinado deste até às regiões agora dominadas pela Assíria e organizando uma sociedade fundada no direito e na justiça." (Página 909)

"Isaías projeta para o reinado de Ezequias o ideal utópico de uma sociedade que chegou à realização plena ... . Esse reinado se fundará no total espírito [do ETERNO D-us] ..., que fará surgir uma sociedade alicerçada na justiça, produzindo paz e harmonia." (Página 911)




segunda-feira, 17 de março de 2014

Shoah, FATO (2) / Os Cristãos, antinazistas?

http://www.avvenire.it/Cultura/Pagine/luterani-nazismo-mea-culpa-su-hitler-intervista-stephan-linck.aspx


"Intervista a Stephan Linck
Luterani, mea culpa su Hitler"


Tradução em português de Moisés Sbardelotto.


"Entrevista com Stephan Linck
Luteranos, mea culpa sobre Hitler

É um "mea culpa" tão espetacular quanto radical e "em curso" aquele que está sendo feito há alguns anos pela Igreja Evangélica da Alemanha do Norte – uma das 22 Igrejas regionais que compõem a Igreja Evangélica Alemã – pelo seu comprometimento com o nazismo. Uma das últimas iniciativas foi a tarefa dada ao historiador Stephan Linck de investigar o que o apoio ao regime hitleriano deixou de herança no pós-guerra. Linck, que já havia se ocupado dos anos "quentes" da República de Weimar em 1945, publicou recentemente "Novo início? A relação da Igreja Evangélica com o seu passado nazista e com o judaísmo. As Igrejas regionais no norte do Elba, 1945-1965", o primeiro de dois volumes previstos, publicado pela editora oficial da Igreja regional do Norte.
Professor Linck, de onde nasceu essa vontade de transparência histórica?
Em 1998, quando o Sínodo da Igreja Evangélica da Alemanha do Norte publicou uma declaração-esclarecimento no 50º aniversário da Noite dos Cristais, se queria saber também quais procedimentos antijudaicos foram emitidos pelas Igrejas de LübeckEutinSchleswig-Holstein e Hamburgo. Não havia uma resposta certa, por isso foi preciso comissionar uma pesquisa. Diante desse vazio de conhecimento, muitos ficaram estupefatos, e se decidiu, portanto, realizar também uma mostra que, entre 2001 e 2007, foi organizada em vários lugares e levou a uma profunda discussão, fazendo conhecer a cumplicidade da Igreja Evangélica na perseguição dos judeus. Portanto, se queria saber como a Igreja Evangélica mudou depois do nazismo e como foi possível que, ao longo das décadas, o tema nunca foi abordado criticamente; por isso, decidiu-se iniciar um projeto de pesquisa.
A ideologia nazista estava imbuída de neopaganismo: como foi possível manter juntos o Evangelho e a mitologia ariana?
No início do regime, o apoio protestante a Hitler era enorme, porque ele havia removido a República, que era vista como uma entidade irreligiosa. Os nazistas propagandeavam um "cristianismo positivo", voltado negativamente apenas contra os judeus, e isso encontrou o favor dos luteranos. O elemento neopagão foi rejeitado pela maioria dos fiéis.
Os escritos de Lutero contra os judeus têm um papel na "sintonia" com o antissemitismo nazista?
As profundas raízes do antissemitismo da Igreja Evangélica afundavam no nacionalismo alemão; no entanto, sim, muitos protestantes se referiam aos escritos de Lutero contra os judeus para demonstrar que eles eram os antissemitas "originais": no fundo, Lutero já havia incitado a perseguir os judeus e a incendiar as sinagogas.
Os nazistas gozaram do favor dos protestantes mais ao norte do que no resto da Alemanha?
Antes de 1933, o Partido Nacional-Socialista gozava de grande favor junto ao eleitorado protestante em geral. Ao contrário dos católicos, os protestantes, durante a República de Weimar, não tinham um partido confessional de referência. Foram os luteranos em particular que rejeitaram a República, porque isso havia levado à renúncia do Kaiser e rei da Prússia, que era visto como a autoridade luterana.
Uma curiosidade: a Lutherkircke de Lübeck foi construída de frente para o norte. Quanto a ideologia nazista influenciou a arquitetura sacra?
A arquitetura das Igrejas foi decidida pelas comunidades individuais e não houve um projeto comum. Na Lutherkirchede Lübeck, reinavam os pertencentes à Aliança para a Igreja Alemã ["Bund für deutsche Kirche", uma pequena minoria da Igreja Evangélica. Eles rejeitavam o Antigo Testamento, judeu demais, e identificavam o Deus pai da Bíblia com o nórdico "Pai de todos", "Allvater", apelativo de Odin]. Por isso, era preciso rezar para o norte e não para o leste, isto é, em direção a Jerusalém. Outra igreja dedicada a Lutero em Hamburgo, no distrito de Wellingsbüttel, foi construída de frente para o norte. A Aliança para a Igreja Alemã foi fundada em 1919, mas teve grande influência somente durante a hegemonia nazista. O expoente mais fervoroso dos chamados "cristãos alemães" no Schleswig-Holstein, Propst Ernst Szymanowski, tornou-se tão extremista a ponto de sair da Igreja e se tornar um oficial das SS. À frente de um "Einsatzkommando", ele foi responsável pela morte de milhares de russos e foi condenado nojulgamento de Nüremberg.
Quais foram as omissões da Igreja Evangélica que, no seu estudo, mais chamaram a sua atenção?
Depois de 1945, a grande maioria dos luteranos não se confrontou com o seu próprio pró-nazismo. Eram criticadas, ao invés, as "forças de ocupação" e a "justiça dos vencedores". Na Alemanha destruída, à qual afluíram milhões de refugiados dos territórios perdidos ao leste, não se queria admitir que essa condição havia sido causada pelos próprios alemães, que, além disso, haviam infligido sofrimentos piores às outras populações. Na Igreja luterana, o sentimento coletivo dos fiéis teve um maior peso com relação à necessidade de julgar o próprio passado. É triste o quão tarde começou uma análise crítica. E é amargo constatar como as pesquisas sobre a história da Igreja em âmbito universitário também se ocuparam muito pouco das responsabilidades da Igreja Evangélica durante o nazismo. Isso ficou muito claro para mim quando eu falei com protestantes de origem judaica: eles esperaram por décadas um mea culpa da Igreja. Uma dessas figuras era a filha de um pastor da Igreja de Schleswig-Holstein, o qual, em 1939, foi proibido exercer o seu ministério, porque havia se recusado a se separar da esposa – uma judia que havia se batizado. O pai, em 1945, tinha pedido para ser readmitido em serviço como um pastor, mas a família esperou em vão o pedido de desculpas por parte da Igreja. Quando eu levei o caso ao conhecimento daquela que foi a sua igreja, foi colocada uma faixa. A mulher morreu três meses depois: recém-havia recebido o pedido de perdão esperado há tanto tempo.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Falam mas não conhecem nada de judaísmo



Esta aí a prova de que querem falar do judaísmo mas não sabem nada de judaísmo.
No judaísmo não existe Javé. No Tanach não existe Javé. Os judeus não crêem em Javé (inglês: Jahve).



Fonte: http://www.radioislam.org/islam/english/toread/jewras.htm

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Corpo, Alma e Ressurreição (Por Rabi YY Jacobson)

O Aleijado Guiando o Cego

O Midrash parece intrigado pela declaração na porção Vayicrá: “Quando um alma (nefesh) peca.” Não “quando uma pessoa peca”, mas sim “quando uma alma peca.” É a alma que peca?

Diz o Midrash:

Rabi Yishmael ensinou: isso é comparável a um rei que tem um pomar de figos selecionados. Ele nomeia dois vigias: um era aleijado, o outro era cego, confiando a eles seu pomar. Após algum tempo, o aleijado volta-se para o cego e diz: “Vejo frutas tão deliciosas nesta vinha!” E o cego responde: “Então vamos comer.”

“Mas posso andar?”

“Mas posso ver?”

Então o aleijado sobe nas costas do cego, e juntos ele alcançam e comem os frutos, e então voltam às suas posições.

Após algum tempo, o rei entra no pomar. Pergunta a eles: “Onde estão minhas lindas frutas?”

O cego diz: “Ó rei, eu posso ver? Como posso tê-las comido?” E o aleijado diz:

“Ó rei, eu posso andar? Como poderia tê-las alcançado?”

O rei era sábio, o que ele fez? Colocou o aleijado sobre as costas do cego e mandou-os caminhar juntos, dizendo: “Foi assim que vocês comeram meus figos.”

Da mesma maneira, no dia futuro de prestação de contas, D'us vai perguntar à alma: “Por que você pecou perante Mim?” E a alma vai responder: “Mestre do universo! Não pequei, foi o corpo! Veja! A partir do momento em que me separei dele, sou como uma ave pura, voando a caminho do céu. Como pequei?” Então D'us dirá ao corpo: “Por que pecaste perante Mim?” E o corpo vai responder: “Mestre do universo! Não pequei, foi a alma! Veja! A partir do momento em que a alma me deixou, estou sem vida como uma pedra largada sobre a terra! Como posso ter pecado perante Ti?”

O que D'us faz? Traz a alma, joga-a no corpo, e castiga os dois, como está escrito: Ele chamará aos céus acima – esta é a alma – e à terra – este é o corpo – para julgar Seu povo.

Quem Precisa da Metáfora?

O Midrash está explicando que o pecado somente é possível através de uma colaboração plena e funcional entre corpo e alma. O corpo pode fazer as coisas, mas é sem direção; a alma dá direção mas é distante e “aleijada” – espiritual e etérea. Juntos, eles podem conseguir as duas metas: podem transgredir juntos, e podem realizar boas ações juntos.

Porém essas perguntas devem ser feitas: O objetivo das alegorias na Torá é esclarecer um conceito que poderia ser difícil. Porém o ponto neste Midrash parece ser direto e simples: o corpo por si só é um corpo; a alma por si mesma “sai para almoçar”. Juntos, eles criam a realidade que chamamos “o ser humano”. Por que a necessidade da elaborada metáfora do cego e do aleijado para explicar o conceito?

A verdade é, no entanto, que essa metáfora nos explica não apenas que corpo e alma precisam um do outro, mas também a própria natureza do corpo e da alma e por que eles precisam tão desesperadamente um do outro.

A Capacidade Para a Revolução

O corpo é representado pelo cego. Cegado pela realidade material, por si mesmo é alheio à existência de D'us. Apega-se a uma interpretação da existência do tipo “aquilo que você vê é o que você consegue”; é incapaz de ver além da perspectiva temporal; é incapaz de perceber ou identificar a verdade. E o pior tipo de cegueira é aquela de quem pensa que pode ver.

Porém a alma pode ver. Está consciente no íntimo das realidades mais elevadas da vida; não é enganada pela ilusão do materialismo e do consumismo.

Por outro lado, o corpo pode caminhar, enquanto a alma é imóvel. Este é um dos grandes paradoxos da vida. Como a alma pode ver, é considerada “aleijada” e imóvel. Face à dura verdade não há espaço para erros, portanto não há espaço para decisões. Se não há tomada de decisões, se não há desafio ou conflito, então não há crescimento, nenhum movimento real. A alma, por estar tão intensamente consciente da verdade, e por ser tão perfeita, está “parada” em sua órbita. O crescimento depende do catalisador da falha, da imperfeição.

Somente se você é capaz de cair muito baixo é capaz de subir muito alto.

O corpo, devido à sua cegueira, sabe como caminhar e correr. Nas palavras do Rei Shelomô: “Voltei e vi sob o sol, que a corrida não pertence ao rápido, nem a guerra ao poderoso; nem o sábio tem pão, nem o compreensivo tem riquezas.”

Em sua ignorância, o corpo é susceptível a cair e subir, a lutar e perseverar, a aprender com seus erros e crescer. E ensina à alma os segredos do crescimento. Antes disso, estava no piloto automático, robótico e consistente como os anjos, e portanto estagnado.



De Rabi YY Jacobson.

Extraído de "Israel, Judaísmo, Torah & Tanach", no Facebook.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

O Significado da Referência Particular de O INFINITO (O "Nome" de D-us: Hashem)

Título original: "Onde Está D'us Quando Vem O Sofrimento?"



Por Rabino Yosef Y. Jacobson


"“Diga-me francamente, eu lhe peço – responda: imagine que é você mesmo que está construindo o edifício do destino humano com o objetivo de tornar os homens felizes ao final, dar-lhes paz e contentamento por fim, mas para fazer isto é absolutamente necessário, e na verdade inevitável, torturar até a morte uma pequena criatura, a menininha que bate no peito com seu pequeno punho, e construir o edifício por cima das lágrimas dela – você concordaria em ser o arquiteto nessas condições? Responda, e não minta!”

Ivan Karamazov, em Os Irmãos Karamazov, de Fyodor Dostoyevsky

Empatia

Uma nova professora estava tentando usar o que aprendera nos seus cursos de psicologia. Começou a aula dizendo: “Quem achar que é idiota, fique em pé!”
Após alguns segundos, Joãozinho levantou-se. A professora ficou surpresa, mas percebeu que era um momento oportuno para ajudar uma criança.
“Você acha que é idiota, Joãozinho?” perguntou ela.
“Não, senhora,” respondeu ele, “mas fiquei chateado de ver a senhora de pé aí sozinha!”

Moshê pergunta o "Nome" (A Referência ou A Alusão Particular) de D'us

O Significado da Referência Particular de O INFINITO (O "Nome" de D-us: Hashem)
A porção desta semana da Torá relata a trágica história de um povo sofrendo por décadas sob um império cruel e brutal. Os bebês recém-nascidos do sexo masculino são atirados ao Nilo; homens e mulheres judeus são submetidos ao trabalho escravo, espancados e torturados impiedosamente. A vida judaica se tornou sem valor.
“Passou-se um longo tempo, e o rei egípcio morreu,” declara a Bíblia. “O povo judeu gemia por causa de sua subjugação, e eles clamaram.”1 A tradição midráshica explica que esse versículo significa que o líder egípcio foi afligido com lepra, comparável à morte, e seus médicos disseram a ele que a única cura seria matar bebês hebreus – 150 pela manhã e 150 à noite – e banhar-se no sangue deles duas vezes ao dia.2 O sofrimento do povo judeu chegou a um ponto insuportável.
Foi a essa altura que “seu clamor chegou a D'us; D'us ouviu seus gemidos.”3No remoto deserto do Sinai, D'us convence Moshê a deixar sua vida isolada e introvertida como pastor, para entrar na toca do leão e libertar seu povo alquebrado pelo cativeiro.
Num diálogo singularmente forte entre Moshê e o Todo Poderoso, Moshê diz a D'us: “Eu irei ao povo de Israel e direi a eles: “O D'us de vossos pais me enviou a vós.” E ele dirão: “Qual é o nome dele?” – O que devo dizer a eles?”
“Eu Serei Como Eu Serei!” responde D'us a Moshê. “Diga aos filhos de Israel: ‘Eu Serei me enviou a vocês.’”4

D'us no Exílio

Essa parece uma resposta sem sentido. Moshê pergunta a D'us o Seu Nome, e a resposta: “Eu estarei como Eu estarei!” Qual o significado por trás dessas palavras curiosas?
O notável comentarista bíblico Rashi,5 baseado na tradição talmúdica,6completa as palavras faltantes: “Eu estarei [com vocês em seu sofrimento atual, assim] como Eu estarei [com vocês nos futuros exílios e perseguições].”
Mas isso também nos deixa em dúvida. Moshê perguntou a D'us um nome, por um meio de identificação, que ele então pudesse comunicar ao povo judeu. Em resposta, D'us apresenta um verbo em vez de um nome adequado, uma atividade em vez de uma descrição.

Uma Estranha Pergunta

Para avaliar a resposta de D'us, devemos primeiro entender a pergunta de Moshê. Moshê diz a D'us: “Veja, eu irei aos filhos de Israel e direi a eles: “O D'us de vossos pais me enviou a vós”, e eles dirão: “Qual é o nome Dele?” – O que devo dizer a eles?”
Maimônides, em seu Guia Para os Perplexos, propõe uma questão.7 Por que Moshê estava convencido de que o povo judeu desejaria saber o nome do D'us que o enviara na missão para libertá-los da escravidão? Poderia parecer que com Moshê demonstrando conhecimento do nome de D'us, ele de alguma forma autenticaria sua alegação como divino mensageiro para redimir os hebreus do Egito. Mas por quê? Se eles tivessem ouvido o nome de D'us antes da vinda de Moshê, seria fácil presumir que Moshê aprendera o nome da mesma fonte que eles, e não necessariamente de D'us. Se eles jamais tivessem ouvido o nome antes, por que o novo nome que aprenderam com Moshê os convenceria a confiar nele?
Além disso, Moshê inicia a pergunta dizendo: “Veja, eu irei aos filhos de Israel e direi a eles: ‘O D'us de seus pais me enviou a vocês,’ e eles diriam: ‘Qual é o nome Dele?’’’
Moshê então discutiria com eles o D'us de seus pais, um D'us sobre o qual eles aprenderam com os pais. Os seus pais nunca compartilharam com eles o nome desse D'us? Como os pais falaram sobre esse D'us ou rezaram a Ele sem algum tipo de nome ou descrição?

A Questão das Questões

Quando Moshê diz: “Veja, irei aos filhos de Israel e direi a eles: ‘O D'us de seus pais me enviou a vocês,’ e eles dirão: ‘Qual é o nome Dele?’ – O que devo dizer a eles?”, ele não está procurando o crachá de D'us ou Seu título. Moshê está abordando a questão crucial das questões, uma que certamente será proferida pelos hebreus a quem ele está sendo enviado.
“Qual é o Seu nome?” os escravos judeus clamarão a Moshê. Por mais de oito décadas estamos sufocados sob o jugo da cruel tirania. Milhares e milhares de nossas crianças foram dizimadas para que o faraó pudesse se banhar diariamente em sangue judaico; bebês foram roubados do seio de suas mães e atirados no rio; temos sido espancados, humilhados, torturados, mortos. Os egípcios transformaram nossa vida num pesadelo infernal e reduziram nossa dignidade à de sub-humanos. De repente, o grande e poderoso D'us do céu e da terra, que cria e governa o mundo inteiro, decidiu sentir nossa dor?
“Qual é o nome Dele?” os escravos gritarão. Você, Moshê, diz que D'us tem “visto o sofrimento de Seu povo no Egito,”8 e portanto enviou você para nos redimir. Mas onde esteve Ele até agora? Qual é o nome, o caráter, de um D'us que pode sentar nos céus e ficar apático enquanto bebês são tirados dos braços das mães e atirados ao Nilo, e o faraó se banha no sangue de crianças judias? Onde esteve Ele nos 86 anos em que estamos sofrendo sob os chicotes dos feitores, sendo espancados até a morte? É este o D'us que deveríamos abraçar e seguir? É este o D'us em que devemos confiar? É este o D'us ao qual devemos ser gratos? Um D'us que fica indiferente às lágrimas e gemidos da humanidade?

A Resposta

Jamais na história D'us respondeu a essa pergunta, a maior de todas as questões e talvez o argumento mais forte para o ateísmo. O Livro de Job, dedicado à questão de por que os inocentes sofrem, conclui com uma revelação de D'us a Job, dizendo a ele, em essência, que não há maneira pela qual a mente humana possa criar os argumentos lógicos nos quais se encaixe o comportamento de D'us. O finito e o infinito simplesmente não combinam.
D'us também não deu a resposta a Moshê. É por isso que no final da Parashá desta semana,9 Moshê confronta D'us, falando palavras duras: “Meu Senhor! Por que fizeste mal a este povo? Por que me enviaste? Desde que eu fui ao faraó para falar em Teu nome, ele fez o mal para este povo, mas Tu não salvaste Teu povo!”
O que D'us diz a Moshê para comunicar ao povo judeu é: “Eu Serei Como Eu Serei!” Como nos lembramos, os sábios talmúdicos e Rashi explicam que isso significa “Eu estarei com vocês em seu sofrimento atual, assim como estarei com vocês nos futuros exílios e perseguições.” Qual é a mensagem por trás dessas palavras?
Eu sou um mistério, D'us confessa. Eu sou estranho, infinitamente estranho. Meu roteiro da história é incognoscível para a mente e coração humanos. Porém, vocês deveriam saber uma coisa: não sou um D'us afastado, residindo nos céus e governando objetivamente o destino de cada ser humano da maneira que acho apropriada. Estou presente com vocês em sua angústia. Estou no gemido do escravo espancado, no lamento de uma mãe enlutada, no sangue derramado de uma criança assassinada. Você está chorando? Estou chorando com você. Você se sente esmagado? Estou esmagado com você. Não importa o quanto sua escuridão é profunda, estou ainda mais profundo. Não orquestro o sofrimento humano de algum planeta distante, afastado de seu sofrimento existencial. Eu estou ali com você, sofrendo com você, soluçando com você, rezando pela redenção junto com você.10
Talvez o homem jamais compreenda a mente de D'us. Mas que ele não pense, D'us diz a Moshê, que entende o propósito do sofrimento, que dá a Si Mesmo o luxo de não sentir a intensidade da escuridão. Cada lágrima que derramamos se torna Sua lágrima. Talvez ele não as enxugue, mas Ele as torna Suas.11

NOTAS
1.Shemot 2:23
2.Shemot Rabbah 1:24, citado em rashi sobre o versículo acima
3.Shemot 2:23-24
4.Shemot 3:13-14
5.Comentário sobre este versículo
6.Talmud, Berachot 9 b
7.Maimônides, Guia Para os Perplexos 1:63. O próprio Maimônides, e muitos comentaristas bíblicos, oferecem várias respostas a essa questão.
8.Shemot 3:7
9.Ibid. 5:22-23
10.Esta verdade também foi comunicada pela própria localização desta conversa entre D'us e Moshê – em meio a uma moita de espinhos. “D'us revelou-Se a Moshê numa sarça, e não alguma outra árvore, para enfatizar que Ele está junto com Israel em sua aflição” (Rashi, Shemot 3:2). Por que numa sarça? Para nos ensinar que não há local sem a Divina presença (Shemot Rabbah 2:9). Esta ideia também é expressa em isaiah 63:9 e constitui um tema importante do livro dos Salmos.
11.Este ensaio é baseado num discurso do Rebe, Shabat Parashá Shemot 5743 (8 de janeiro de 1983), publicado em Likutei Sichot vol. 26, págs. 10-25. Quando o Rebe fez este discurso, ele chorou amargamente. Foi uma cena inesquecível e comovente. Os presentes sentiram o coração pesado pelas lágrimas incontroláveis do Rebe ao descrever a questão dos judeus e a resposta de D'us."